terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Resenha – A Clavícula de Salomão

Há anos este livro é publicado, mas nenhuma edição foi realmente fiel a estrutura cerimonial de suas operações. Eis um dia, estava eu despretensiosamente numa livraria e me deparei com uma nova edição, da então desconhecida Editora Chave, que me chamou a atenção. Um livro de tamanho considerável, capa dura e um sumário digno. Dentro, descobri que a publicação teve o apoio do site Megaleitores (www.megaleitores.com.br), uma plataforma que investe em livros não aceitos pelas grandes editoras do País. E posso afirmar que foi a melhor publicação comparando-o com outros títulos similares de editoras renomadas.

A Clavícula de Salomão é uma clássica obra de magia cerimonial do século XVI, estima-se. Apesar do nome, não foi Rei Salomão – figura bíblica – que o escreveu, apenas atribui-se ao seu nome pelo fato de considerar que seus conhecimentos seriam capazes de conjurar espíritos elementais, anjos e demônios, o que a obra aborda. Editado e compilado por Samuel Lidell Mathers, é dividida em duas partes: A primeira traz encantamentos, conjurações, tabelas com correspondências entre planetas e seus dias e horas, anjos, arcanjos, metais e cores, e instruções para se construir o círculo mágico. Além, é claro, dos pantáculos e a base para suas operações. – Aqui, coloco uma observação. Em todo o momento o livro usa a palavra “pentáculo” ao invés de “pantáculo”, o termo correto para as figuras nele impressas. Este, sem dúvida, é um deslize intrigante.  A segunda parte traz especificações e instruções minuciosas para a confecção dos instrumentos utilizados nos rituais, incluindo as vestes, os materiais, ervas, incensos, conjurações e exorcismos apropriados para cada item. Há ainda detalhes sobre as extensas preparações que o ocultista deve fazer antes de cada operação mágica, como jejum, preces e banhos rituais.

Sendo realista, todo o conteúdo é fortemente judaico-cristão, baseado nos conhecimentos cabalísticos e herméticos antigos. Várias pessoas vão achá-lo extravagante, pois hoje, muitas das coisas são quase (disse quase) impossíveis de serem realizadas ao pé da letra e vão contra a liturgia wiccaniana. Mas seu conhecimento pode ser facilmente aplicado em operações modernas – talvez contemporâneas – desde que se siga alguns preceitos inquebráveis. Basta sabedoria e realmente conhecer com que está lidando. Ainda hoje, ordens como a Golden Dawn (Aurora Dourada) e tradições de bruxaria tradicional bebem desta fonte enriquecedora e poderosa.

Não se assuste ou crie um pré-conceito do livro somente por abordar operações com anjos e demônios, caso você siga a Wicca. Muitos são uma coisa só e somente lidando com eles para realmente conhecê-los. E lembre-se, você é capaz de absorver o melhor dele para realizar o que quiser, ou puder.

Pedro Guardião

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O Deus e suas Faces - Pedro Guardião

O Deus muitas vezes é deixado de lado nos cultos pagãos, como se a energia da Deusa pedisse essa dedicação exclusiva. Isto é verdade em parte, pois não é possível cultuar o Deus adequadamente enquanto não mergulharmos na Deusa e nos despirmos do Deus do patriarcado.

A Deusa nos mostra que ele é seu Filho, Consorte, Defensor e Ancião, e aparece tríplice como Ela.


O Deus Jovem é, antes de tudo, a Criança da promessa, a semente do sol no meio da escuridão. Depois é o Garoto do Pólen, o fertilizador em sua face mais juvenil e traz a energia da alegria de viver, o poder de se maravilhar ante as descobertas da vida, é o experimentador, a face mais sorridente do sol matinal.

Daí surge o Deus Azul do Amor, o rapaz que cresceu e chegou na adolescência e desabrocha em beleza e masculinidade, é o Jovem Deus da Primavera, percorre as Florestas e acorda a natureza. Ele é o Apaixonado, aquele que primeiro busca a Deusa como a Donzela e propicia o encontro. É também o Deus da sedução ainda inocente, que ainda não conhece os mistérios da Senhora. Ele é toda a possibilidade.

Depois ele é o Galhudo e o Green Man, o Deus macho na sua plenitude, o Senhor dos Chifres que desbancou o Gamo-Rei anterior, ele é força e poder, músculos e vitalidade, ele cheira a sexo e promessas. Ele é o Grande Amante, atraído irresistivelmente pela Senhora e é o Provedor, o Sustentador, o Senhor Defensor. É o Senhor das coisas Selvagens, o Deus da Dança da Vida, O Falo Ereto, O Fertilizador. Como Green Man, ele também é o Senhor da Terra e sua abundância, o parceiro da Senhora dos Grãos. O Senhor dos Brotos, aquele que cuida dos frutos e os distribui pela terra.

Mas o Deus é também O Trapaceiro, o Senhor da Embriaguez, o Desafiador e o Ancião da Justiça. Ele nos faz seguir um caminho e nos perdemos para conhecer o pânico de Pan. Ele nos deixa loucos como Dionísio, ou perdidos nos devaneios de Netuno. Ele é o Desafiador, seja nos duelos, seja na guerra, na luta pela sobrevivência... ele é caprichoso e insidioso, ele nos engana, nos deixa desesperados e sorri - porque esse é seu papel, estimular o novo, mostrar que nosso desespero é inútil e só nos escraviza.

Como a Deusa, Ele está na fome e na saciedade, na vida e na doença terminal, na luz e na sombra, no que é bom para você e no que é mau. A Deusa nunca está só, ela tem sua contraparte masculina e, no entanto, Ele só existe por amor a Ela. Aliás, todos nós somos fruto dessa dança de amor. O Deus é o Ancião sábio, o distribuidor da Justiça, seja a que se impõe com sabedoria ou raios; Ele conhece os segredos dos oráculos, mas sabe que são Dela. Ele é o repositório do conhecimento, mas a sabedoria é Dela; Ele lê os sinais da natureza, mas sabe que quem os escreve é Ela.

E o velho sábio vai murchando e se transforma no Senhor da Morte; Ele que é o Senhor dos Dois Mundos, pois no ventre dela, de volta, ele vive sua morte e a própria ressurreição. Mistério e segredo, morte e retorno, Ele é o que atravessa os portais dos quais Ela é a Senhora. Ele, o Caçador, que também faz o papel de Ceifador. Ele que ronda o leito dos moribundos e dança a dança da morte. O Senhor dos esqueletos. Ele, que na dança da morte retoma o brilho do sol e sua face negra se ilumina, em uma explosão impossível de conter, e Lugh nasce outra vez. Ele que é Pai, Filho, Bebê Iluminado, Amante Selvagem, Sábio Educador. Ele, o Deus que se revela apenas pela Deusa.

Curiosidade: O Deus Azul ou Queer

O Deus Queer é considerado o primeiro reflexo visto pela Deusa quando Ela se mirava no espelho curvo e negro do Universo, fazendo amor consigo mesma para criar toda a vida. Ele é a própria imagem da Deusa refletida na luz do êxtase, momento infinito da criação. Se tornou o Seu primeiro amante e é a expressão do amor puro, a alegria ilimitada e a sexualidade em suas amplas manifestações. Ele representa não a heterossexualidade ou homossexualidade em si, mas a sexualidade como o abraço apaixonado do Divino, em cada um de nós e no Universo.

Assim, quando nos ligamos a uma outra pessoa no êxtase do amor, seja numa relação homossexual ou heterossexual, abraçamos o divino em nós mesmo, no outro e no universo. Esta é a chave para começar a conexão com o Deus Queer. Sendo assim, pagãos homossexuais ou bissexuais consideram seu patrono, já que ele pode ser considerado masculino e feminino, amado e se relacionando com ambos.

O Deus Azul é a própria manifestação do amor. Seu nome está associado com Diana, um dos nomes sagrados da Deusa, e a raiz da palavra inglesa 'glass', significando espelho. Isto nos dá a ideia de que o Deus Azul é a própria imagem da Deusa, refletida na luz do êxtase, no momento infinito da criação. Ele é a primeira manifestação masculina da Deusa e por isso está mais próximo da Deusa na maioria das tradições pagãs, o que nos dá mais indícios ainda de sua essência feminina.

Dian Y Glas é a própria manifestação do self profundo, aquilo que nos conecta com o Divino há tanto renegado e esquecido. Ele é visualizado como um Deus azul prateado ou como o próprio céu azulado. O Deus Azul está associado com a primavera, juventude e alegria. Ele é muitas vezes chamado de Espírito Pássaro e o seu principal símbolo é o Pavão com uma estrela prateada no peito.".